“Ao espelho:
Pode condenar, já que sabes toda
minha historia.”
Tu sabes quantas vezes sangrei meus tímpanos
ouvindo a musica - um desgraçado enredo mórbido - que fala dos meus caminhos
sobre vales escuros, que obscureciam minha alma, fazendo meu pulsar limitar-se
a mim, meu escuro, um muro a dividir o mundo de mim, o deserto dos jardins. Eu
era pura escassez, mas ainda havia um oasis que gritava aqui.
Diga que sou
ruim. Tu sabes bem quantas vezes feri os dedos e sacrifiquei madrugadas,
perdendo a calma, na busca do solo que expelia sentimentos e elevava a alma.
Quantas vezes escrevi – a pulsos de sangue – minha historia, em letras
ordinárias sem muitos emboços.
Fale do meu
caráter. Tu sabes bem quantas vezes diante a um espelho, vi minha alma maculada
de rubro, estive procurando uma fagulha de amor, que matasse a sede, e apagasse
a lareira que luzia em ódio e rancor, vi meus olhos com um brilho intenso de
solidão. Já estive a margem de meu ser, com um precipício como paisagem, onde
um passo a mais era um mergulho ao infinito.
Condene meu
futuro. Tu sabes bem, a estrada que escolhi caminhar, quantas vezes calejei
meus pés por tais escolhas, as caronas que pedi e recebi poeira em troca, os
tropeços que levei por errar a reta e caminha em selva.
Discurse
sobre minha tristeza. Tu bem sabes, dos amigos que deixei para traz, e os que
perdi por um triz, que sumiram como pó de giz ao vento, deixando-me no
desatento isolamento, gritando como um ser em vil demência que se perde de si.
Aprendi tão bem a sufocar o choro que quanto ele vem à tona é expirado antes
mesmo de surgi por completo.
Eu sei que o
que tu sabes é segredo, que provocaria até nos mais ordinários dos seres um
sentimento avassalador, terrivelmente desprezível de abominação, repugnância,
nojo, medo, ódio, rancor.
Tu bem sabes o que se esconde sob esses escombros.
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